POR: MARGARETH CASTRO – Siga @margarethcastro/@notaseprosas
A prosa deste mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher e o Dia das Mães é com a jornalista Tânia Costta, atualmente editora-chefe do Manhã Total, da TV Paranaíba/Rede Record. Mulher, mãe e excelente profissional, Tânia Costta fala sobre o início da carreira, dos desafios que enfrentou, sobre preconceito, as decisões que tomou em favor da família e dos projetos para o futuro. Um bate-papo descontraído, no qual a jornalista abre o seu coração e fala das pessoas que contribuíram para o seu crescimento profissional e sua formação pessoal, dá conselhos aos colegas em início de carreira e muito mais.
Você é uma jornalista conhecida e respeitada pelo trabalho que realiza em Uberlândia há muitos anos. Desde que se formou, trabalha em TV. Essa sempre foi sua vontade ou as oportunidades que surgiram levaram você para este caminho?
Amo o caminho que percorri. Sou uma apaixonada pelo trabalho em TV, muitos desafios e conquistas. Mas, o curioso, é que eu não sonhava isso não. Na época da faculdade, por exemplo, acreditei firmemente que meu caminho seria o impresso. Algo em jornalismo investigativo, político. Cheguei a dizer que jamais faria TV. Mas quando você é recém-formado e ansioso por ingressar no mercado, o melhor é a primeira oportunidade que aparece. Foi em TV, na antiga TV Cancella, afiliada SBT. Lá dei meus primeiros passos com uma grande profissional que acreditou em mim, a jornalista Eliane Moreira (Dirco UFU). Depois disso fiz vários trabalhos pra rede nacional e permaneci na área.
Trabalhar em TV é o sonho de quase todos os estudantes de jornalismo. Qual o seu conselho para aqueles que desejam trilhar este caminho?
Percebo isso desde os tempos da academia. Um grande número de futuros colegas tem este desejo. Isso chegava a me incomodar na época. E para muitos, a realização seria a bancada de um telejornal ou um programa de destaque. Uma dica de quem ainda está aprendendo tanto, e precisa aprender muito mais, mas que viu muitas coisas, é que se atualizem e foquem no conteúdo. O profissional bem preparado, que estuda, se atualiza, lê, este terá mais chances de sucesso. Aí, depois a aparência, a apresentação, a simpatia, a seriedade. E o mais importante, manter em mente que a notícia, é que merece o destaque. A visibilidade que a TV proporciona pode ser uma armadilha para a vaidade .E digo isso num momento em que, com a ajuda das redes sociais, nossa imagem tem ganhado mais espaço de exposição, hora por necessidade, estratégia, hora por excesso mesmo. É fundamental que o repórter de TV, o apresentador entendam que devem gostar de gente. Que ser simples, falar simples é o caminho. Hoje a interação é “lei”. Gente gosta de se ver na TV, de participar. Os veículos sentem isso cada vez mais e trabalham isso na guerra pela audiência.
Você começou em uma época que não era muito comum ver negros na TV, seja como repórteres ou apresentadores. Você conquistou este espaço e conseguiu se tornar uma referência. Vc já enfrentou muito preconceito? VC acredita que teve que “mostrar mais serviço” por ser negra?
Cresci numa família de músicos, artistas de teatro e comunicadores. Por parte de pai, toda minha família é de negros. Cresci num universo onde fui valorizada e minha formação me permitiu ter muito orgulho de quem sou: uma pessoa. Convivi com pessoas negras e brancas que se entendiam pessoas e pronto. Mas sei que a realidade da maioria dos negros não é esta, e se enfrenta o preconceito e uma série de dificuldades desde o nascimento. Quando escolhi ser jornalista, ainda adolescente, ouvi de um primo adulto, com sólida carreira na área econômica, que eu deveria pensar se haveria espaço pra mim nesse mercado. Ele se perguntou onde eu iria trabalhar. Então a gente reflete que precisa é seguir o coração e focar. Quando fui contatada pela emissora de TV, ouvi um funcionário antigo perguntar porque a TV havia contratado “essa nega”. Ouvi também um jornalista formado dizer a mesma coisa. Aí tive contato com o preconceito. Mas não me senti triste ou desanimada como algo pessoal, que me atingisse. Me entristeci por ter ser humano próximo a mim pensando isso. Mas a gente segue, quando se sabe quem se é. No exercício diário, vivo poucas situações, realmente muito poucas. Mas sei que o preconceito é velado. Mesmo assim acredito que a aceitação é maior. Ter me tornado repórter de rede e apresentadora, sendo negra, para mim é alegria e conquista. Graças a Deus, há profissionais que acreditaram em mim, tendo paciência de me ensinar, e graças a muito, muito trabalho, pode acreditar . Não penso que tive que mostrar “mais serviço” por ser negra, mas sei que para os jornalistas negros ainda há um caminho a percorrer. Hoje fico feliz quando vejo novos colegas negros em TV, na região, no país, no mundo. Mas quando assumi em determinado período, uma função gerencial convidei vários estudantes de jornalismo negros para me visitarem, para conversar sobre possível ingresso em TV, não tive muita facilidade. Alguns precisam vencer o receio da falta de espaço. Coragem e trabalho.
Foram quase 20 anos de trabalho em uma única emissora de TV, onde você conquistou vários cargos. Como foi a decisão de se desligar para se dedicar à família?
Perto de duas décadas de trabalho foi necessário repensar. Quem me conhece sabe o quanto amo o que faço e me dedico. Olhei a volta e vi filho pequeno, marido com projetos envolvendo viagens internacionais de trabalho. Saindo pela manhã, voltando à noite, fins de semana e feriados no trabalho (realidade de todo jornalista). Foi preciso parar e muito difícil também. Sou realmente apaixonada. Como numa empresa para dar tudo certo os sócios têm que se doar, investir, na família é da mesma forma. Meu marido que é da área de telecomunicações, sempre me deu todo suporte, apoio e compreensão, para que eu trilhasse minha carreira. Naquele momento, era minha vez de parar pra que a família seguisse como planejamos. Foi difícil e contei com a compreensão dos meus gestores na época, por quem tenho grande respeito, carinho e admiração, Everton Machado, da TV Vitoriosa, e Hiltonei Fernando, hoje na Band Triângulo.
Foi pouco mais de um ano longe das câmeras de TV. Como avalia o seu retorno ao mercado e quais os principais desafios, já que agora tem um cargo executivo?
Na verdade, eu já tinha um cargo executivo no trabalho anterior. Exerci as funções de editora- chefe, apresentadora e chefe de redação. Hoje o desafio é trabalhar num programa muito diferente de tudo o que já fiz. O Manhã Total, filho caçula da TV Paranaíba/ Rede Rcord, é uma revista onde posso, como repórter, diariamente trazer o lado da notícia, e como editora-chefe, seguir junto com uma turma que faz jornalismo e entretenimento. Na minha equipe tem jornalistas, tem atores. Muita gente talentosa e querida. Um programa com uma proposta muito bem feita pelo nosso diretor Rogério Silva. E aprender com toda esta turma jovem, madura, com força de vontade de fazer coisas novas e colaborar com a boa movimentação do mercado local.
Além de começar a trabalhar bem cedo, ainda de madrugada, como editora-chefe do Manhã Total, quais os principais desafios de colocar no ar todos os dias o programa
É a turma da madrugada chega bem animada para o trabalho. Há colegas que chegam às 3h,4h, para fazer o Manhã Total. Nossa apresentadora, Patrícia Caetano, é pura simpatia e as gargalhadas dela rolam soltas nos bastidores da nossa madrugada também. O nosso programa tem procurado ouvir as pessoas sobre o que esperam ver em um programa matinal. E numa região tão grande, acreditamos que é positivo dar opções para o telespectador. O desafio maior é fazer sempre esse diagnóstico, respeitar as pessoas, fazer a iniciativa cada vez mais conhecida. Afinal, são 100 cidades da área de cobertura. É muito trabalho pela frente. Isso movimenta muito os profissionais.
Existem novos quadros programados? O programa está passando por uma reformulação de conteúdo e imagem?
Temos a intenção de nos manter em movimento. E mudanças estão acontecendo e estão a caminho. Natural isso num programa com pouco mais de um ano e meio no ar. Vem quadros novos sim e em breve.Temos uma turma criativa e tenho alguns projetos sim. Novidades e com esse foco de abrir espaço para as pessoas. Entregar conteúdos que façam diferença e facilite a rotina delas. Outra coisa é importante, surpreender de tempos em tempos.
Quais os projetos para o futuro? Pessoais e profissionais?
Primeiro Deus. Depois família. Estou envolvida em projetos que acredito que vão levar mensagens de vida, amor e esperança para famílias e para jovens nas escolas. Tenho um irmão passando por um sério tratamento contra o câncer e estou com ele e outros amigos e irmãos para colocar ideias em prática. Canto em coral e grupos de amigos desde pequena e voltarei às aulas para aprimorar o canto. Profissionalmente, quero ver o crescimento em todos os sentidos, da proposta em que estou. Sempre contribuir para o crescimento do grupo onde se está é algo que meu pai, “Seu Bomzinho’ ensinou aos filhos. Estou também num estudo que pode me permitir voltar de vez em quando me exercitar no impresso, uma revista. Estou longe há muito tempo. E ainda gostaria de passar pela carreira acadêmica. Vamos ver o que Deus reserva. Vida nas mãos Dele.
FOTO: Arquivo Pessoal