EXCLUSIVO – Oswaldo Montenegro fala de “Amores” e de sua carreira ao Notas & Prosas

POR: MARGARETH CASTRO – Siga @margarethcastro/@notaseprosas

O encontro com Oswaldo Montenegro aconteceu na rua, em frente ao Teatro Municipal de Uberlândia, onde acontece a apresentação do espetáculo “Amores”, cuja trilha sonora é dele. Ao chegar para entrevistá-lo, o vejo no trailler de lanches, com toda a singularidade que lhe é peculiar: um charuto em uma mão e lata de coca-cola zero na outra.

Logo, desço do carro e deixo que a fã fale mais alto e vou até ele: “Oswaldo Montenegro dando ‘sopa’ assim na rua? Você não tem medo que o rapte?!”  Logo ele se aproxima e ganho um abraço, acompanhado de um sorriso. Lembro do que me levou até ele e digo que fui para entrevistá-lo. Com toda a simpatia, ele logo se prontifica e me convida a ir ao seu camarim. 

Bem à vontade, senta-se na cadeira para receber o Notas&Prosas e também as jornalistas Patrícia Masan e Mirna Tonnus, da Revista Cult. Ele conta que é a segunda vez que assiste ao espetáculo “Amores”  da plateia e se sente “privilegiado por poder viver daquilo que gosta de fazer, que é arte”.  Confira a entrevista

Como você tem esse olhar de músico,a valiando a sua própria obra, que envolve outro elemento?

A obra acaba sendo a fusão do trabalho de  todo mundo, totalmente coletivo, que começou com a Ariadna, que me propôs esse trabalho. Conversamos muito sobre os temas, depois chegamos ao roteiro e depois eu fiquei gravando a trilha durante meses e depois ela me pediu textos que ligassem um quadro ao outro. Porque, cada quadro aborda as relações amorosas sobre um ponto de vista. Foi ensaiado por ela e coreografado por eles, depois iluminado e cenografado até que resultasse na obra boa, que é tudo isso junto.

Com mais de 30 anos de carreira, essas experiências novas é o que te motiva?

Sempre estive ligado ao audiovisual de alguma maneira, fazendo teatro, balé e há quatro anos fazendo cinema. Eu gosto muito quando a música é ligada a alguma circunstância, quando a música está preenchendo alguma coisa. Eu me amarro, dá a música um outro sabor e obriga a gente que está criando a uma postura mais generosa. Você não vai falar do que você sente, vai falar das coisas que aquele personagem está sentindo.

E as inspirações para estes espetáculos, para as músicas, de onde vem?

Vem dos roteiro. Toda vez que está se compondo para uma trilha, você tem que mergulhar naquela história que está sendo contada e escrever a partir dali.

Você tem uma ligação muito forte com a dança. Já fez até música de bailarina e está sempre retratando a dança de alguma forma.  Sua primeira peça musical foi em 1974, “João sem nome”.  De lá para cá, como você avalia o seu crescimento profissional nesta área?

Eu não sei avaliar o que eu faço. Eu sei que o prazer de fazer continua o mesmo. Eu sei que ainda estou no mesmo clima de quando eu estava ali com 16 anos, começando, empolgadão. Eu ainda tenho essa mesma fissura de trabalhar com arte.

Cinema, dança, música…tudo junto? A mesma paixão?

Eu adoro tudo, mas a mãe de tudo é a música. Meu maior amor é a música. Eu já fiz música sem cinema, sem teatro, mas nunca fiz nem filmes,nem peças e nem balé sem  música. Eu estou sempre com a música ao lado e sempre com ela. Ela é a prioridade embora eu seja apaixonado por essas artes todas.

O Por Brilho ainda é sua música preferida?

É… é uma das…

Porque?

Por que Por Brilho fala da grande amizade da minha vida que é a Madalena Sales, flautista que toca comigo há  40 anos.Nós  éramos namorados quando tínhamos 18 anos e nos separamos e Por Brilho é a música que eu escrevi para ela no dia em que a gente se separou como namorados e virou irmãos. Na época era um pedido e hoje é um agradeicimento porque viramos. ´/e uma música que define, que é uma coisa uito importante na minha vida que é amizade com Madalena Sales.

Em Amores, o quadro que me chamou bastante atenção foi essa divisão entre dois amores, um é o descanso e o outro o êxtase.Você acha que isso é comum , você acredita que grande parte das pessoas se dividem entre dois amores?

É, principalmente na transição entre um e outro. Tem uma hora que a paixão vai acabando, aquilo vai sendo fraterno e naturalmente vai surgindo o outro. Nesse momento, em que uma coisa vaza na outra, as pessoas tem muita angustia em escolher. Eu não discuto, não tenho nenhum olhar moral nisso.  Não sei se a pessoa deve escolher ou não, eu só retrato.

O espetáculo não tem idade, o seu trabalho também ultrapassa isso.Isso está ligado a construção do novo público?

A única coisa que eu não faço na arte é pensar. Eu não analiso nada,  vou fazendo. Não penso mesmo, não sei que publico vou atingir. Nunca pensei. O que eu tenho é gratidão é poder viver do que eu gosto. Eu acho que trabalhar com que eu gosto é um privilégio. Faço música instrumental com o mesmo amor que eu faço as questões e não sei nunca onde bater. Algumas coisas dão certo e outras não, mas eu tenho um desligamento profundo  da parte racional. Eu me desliguei da lógica há muito tempo e não me reconciliei não.  Meu negócio é fazer arte, eu mando a flecha e nunca penso onde é o alvo.

FOTO: Divulgação

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